Enquanto folheava uma revista veja de 05 de maio de 2004, deparei-me nas páginas amarelas com a entrevista de uma jovem senhora, que aos 33 anos perdeu as duas pernas, que foram amputadas após um grave acidente, quando andava de banana boat no litoral fluminense, Rio de Janeiro. O exemplar da revista era de uma escola infantil, e fica numa sala de arte; talvez isso explique o fato de terem recortado o rosto da entrevistada. Ainda assim interessei-me pela história trágica; não simplesmente pela tragédia, mas pela manchete da entrevista que dizia: “Não adianta chorar” e ainda, as palavras em destaque da entrevistada, que diziam assim: “Como não posso voltar atrás, tenho de dar a volta por cima. Quando estou ficando triste, digo a mim mesma: levanta essa cabeça.” Aos 33anos, professora, casada, mãe de dois filhos; em um momento de diversão e descontração com a família, de repente ela se depara com uma tragédia que afeta diretamente sua vida e altera pra sempre seu estilo, ritmo, práticas de vida... Impondo a ela limites que jamais imaginara ter. A história é triste, trágica e capaz de sensibilizar a qualquer um diante do sofrimento e dor pelo qual passou essa jovem. Seu exemplo de superação, coragem, força e garra, são pra deixar qualquer um com uma vontade enorme de agradecê-la por isso; como muitos já o fizeram; segundo ela mesma conta. No entanto, diante de tudo isso, parece absurdo pensar na insensibilidade trágica. Seria, se ela não estivesse tão presente neste episódio. O primeiro fato que chamou-me a atenção, foi a causa do acidente. O condutor da lancha estava embriagado e certamente, sem o controle de si, não conseguiu controlar também a lancha que pilotava. Esse é um fato e demonstra uma insensibilidade enorme diante do descaso com os outros. Numa atitude egoísta, o sujeito se embriaga e se diverte irresponsavelmente sem pensar no perigo que representa para outros. Não menos assustado eu fico, quando me deparo com um anúncio de cerveja que ocupa duas páginas e está exatamente entre as páginas da entrevista dessa história trágica, provocada e produzida exatamente pelo uso de bebida alcoólica. A insensibilidade continua estampada e evidente quando no decorrer da entrevista descobri que ninguém foi responsabilizado ou preso por isso. Muito pelo contrário, segundo conta a vítima, no depoimento que precisou prestar, ouviu insinuações de que a culpada seria ela.
É a tragédia que sensibiliza e a insensibilidade trágica que assusta; enquanto a sociedade parece absorver fatos assim e se acostumar com as coisas assim como são. A irresponsabilidade, a impunidade, o descaso com a vida humana; tudo isso, é muitas vezes alimentado e nutrido por atitudes de acomodação e conformismo. Prefiro ficar com o exemplo de Andrea, que disse no momento do acidente: “Eu me apeguei a Deus como uma tábua de salvação”. E mesmo depois de tudo, Andrea supera seus limites e enfrenta a vida do jeito que dá. Ganhou o apoio da família, umas próteses de um médico de Sorocaba, e adapta-se ao ritmo de vida que lhe é possível.
Que tenhamos sempre a capacidade de se indignar e jamais conformar-se com insensibilidades absurdas, atitudes egoístas de quem só pensa em si mesmo; muito menos acomodar-se diante de limitações que porventura possam nos ser impostas tragicamente. Que nosso caminho seja o da gratidão pelo que temos ou o que nos restou, como também o da descoberta da melhor forma de viver e servir, a Deus e ao próximo.
Salmos 37:39 Mas a salvação dos justos vem do SENHOR; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia.
wanderley t f 11/10/08