quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um para alguém e uns para os outros.




    Não passa de romantismo ilusório dizer que nascemos um para o outro. Não nascemos um para um, nascemos sim, uns para os outros. No máximo nos tornamos um para alguém; ainda assim continuamos no grupo do uns para os outros. Até mesmo o primeiro casal, Adão e Eva; somente Eva nasceu para Adão. Adão apenas nasceu e depois recebeu a Eva como sua esposa porque ela havia nascido para esse fim. É certo que o tornar-se um para o outro, que acontece por meio do casamento, é um pacto muito profundo firmado entre duas pessoas de sexos opostos e envolve um comprometimento que vai muito além das relações de amizade apenas. Tornar-se um para o outro nesse caso, é tornar-se uma só carne, ter uma vida em comum, propósitos muito bem definidos para uma vida inteira juntos. Tornar-se um para o outro é uma opção, uma escolha, um acordo firmado entre duas pessoas que se encontram na vida, então, unem-se em comum acordo quando acreditam que as afinidades, os desejos em comum, propósitos e amor recíproco são suficientes para enfim tornarem-se um para o outro. Tornar-se um para o outro não é tornar-se outro para o outro, é ser o mesmo e adaptar-se à vida a dois. O casamento não é uma mudança radical e obrigatória do jeito de ser ou personalidade, mas é antes de tudo um convívio com uma pessoa diferente, e não poucas vezes, muito diferente, numa relação de extrema proximidade e intimidade, onde deve prevalecer o respeito mútuo e uma adaptação constante para que essa relação e convívio seja o mais agradável possível. Quando falo na adaptação constante, falo das mudanças, às vezes até pequenas, mas quase sempre muito significativas para os relacionamentos. Falo dos diálogos contínuos em busca de entendimentos e acordos, para que as diferenças sejam apenas detalhes na relação e não o que mais se evidencia e importa. Tornar-se um para o outro não é impor condições ou ter de submeter-se a elas, mas é ter a capacidade de às vezes ceder ou tolerar no que não é essencial para preservar o que é. É ter a liberdade de rever posições, comportamentos e práticas e ser flexível às mudanças que forem necessárias e possíveis de acontecerem. Tornar-se um para o outro não é abrir mão completamente da individualidade, ou exigir isso do outro, e sim respeitá-las, mantendo a consciência de que antes, ou mesmo depois de tornar-se um para o outro, cada um é um ser humano completo e único, com muitas semelhanças com outro qualquer, mas diferenças às vezes enormes e peculiaridades que precisam ser respeitadas. Tornar-se um para o outro não é exatamente tornar-se o que ou como o outro gostaria que fosse, mas é fazer o possível para dar o melhor de si mesmo, sendo a companhia constante, sendo leal na parceria e seguir adiante haja o que houver, ...é ser a outra parte da mistura; e cuidar para que seja mesmo uma mistura, e que as individualidades não sejam tão valorizadas a ponto de inviabilizarem a parceria, a relação. Tornar-se um para o outro não é apenas cuidar do outro, mas é cuidar-se, e também para o outro. Quem cuida-se, não se cuida apenas para si mesmo, mas também para o outro; pois cuidar-se é valorizar a existência, é valorizar-se e valorizar o outro, a relação. Pensando nisso, faço uma pausa aqui para falar um pouco aos dois sobre o cuidado pessoal. Certamente não direi tudo, apenas um pouco para servir como exemplo numa análise mais profunda que espero, cada um faça. 
          Homens: começo pelo básico, que talvez seja muito mais uma lembrança, que uma descoberta. Homens; mulheres são cativadas pelo que ouvem muito mais do que pelo que veêm; mas isso não significa que o que ouvem é o bastante, que o que veêm não importa, pois se assim fosse, os vestidos, sapatos, bolsas e lingeries teriam de ser mostrados tocando belas canções ou poesias apaixonantes, caso contrário não atrairiam tanto. Portanto, cuide da sua aparência porque certamente isso importa muito para ela. Mulheres precisam se sentir protegidas e seguras,  por isso homem; a sua responsabilidade de provedor deve ser assumida a qualquer custo. Isso não tem a ver apenas com casa, comida, roupa, coisas materiais; mas também com os sentimentos. Deixe claro sempre o que sente por ela, e repita isso sempre, porque isso faz parte do cuidar-se para ela. Se você mantém seu sentimento de amor, vivo e alimentado por ela, e além  disso declara em palavras, atitudes e gestos; certamente que isso a seduz e cativa. Além disso, cuide da sua comunicação. Como você fala e o que fala pode fazer uma enorme diferença no convívio.                                                     Mulheres: homens são atraídos pela aparência, são cativados e muitas vezes até seduzidos por ela; portanto, dentro da medida do tolerável e sem extrapolar, cuide muito bem da sua aparência. Nem sempre os homens conseguem falar abertamente sobre isso de forma que não machuque, ou mesmo porque ficam constrangidos; mas é muito importante pra eles. E quando falo cuidar da aparência, não é só nos momentos especiais, nas festas, saídas para passeios e etc. é sempre. Desde a roupa íntima de todo dia, a camisola, a roupa do dia a dia e certamente, a roupa pra sair. Resista a vontade e ás vezes o costume de vestir-se apenas para si mesma. Por mais que você tenha seu estilo, suas preferências; seus apegos, pense melhor e reveja tudo isso pensando nele. Além disso, na privacidade, aproveite para ser extravagante e sensual para ele. Você tem direito e ele certamente apreciará, já que o homem é atraído pelo que vê. Cuide do peso. Cuidado com o excesso. Cuide da alimentação. Alimentação saudável, possibilidade maior de peso sob controle, vida muito mais saudável, aparência melhor, autoestima elevada. Como a comunicação é uma via de mão dupla, também disso você mulher precisa cuidar. A forma como fala, o que diz e quando diz podem ter impactos profundos, positivos ou negativos na relação.
        Como já disse, nascemos uns para os outros. Somos uma parte importante para alguém; temos o suprimento para carências na vida uns dos outros. Nascemos dependentes uns dos outros, não somos completos sozinhos. Cada um de nós foi feito com algumas habilidades e capacidades, mas não todas. Cada ser humano nasceu para viver em comunidade e não isolados de tudo e de todos.  Por isso vivemos igreja, por que somos membros de um corpo, e não um corpo completo. O casamento ou qualquer outra relação não elimina esse fato. Não nos tornamos propriedade exclusiva de uma pessoa, pois mesmo que o casamento nos torne um para alguém, ele não elimina o uns para os outros; e um dos motivos é que nem um dos dois é suficientemente o bastante para o outro. Numa relação fraterna, somos um para alguns. O que recebemos em forma de dons, talentos e outros; para dar, dividir e também receber; vai muito além do relacionamento a dois. Os contatos, os relacionamentos, as relações de amizades e as afinidades que acontecem e se desenvolvem ao longo do tempo, fazem parte da vida de todo ser humano cercado por outros, e esse fato deve ser respeitado sempre. Tornar-se um para o outro é opcional, até que se faça o compromisso; depois dele, não mais. Mas viver uns para os outros é dever, obrigação, e não fazê-lo é vida egoísta, é transgredir, é isolar-se, é escolher a solidão. É importante lembrar e jamais esquecer que tanto o tornar-se um para o outro quanto viver uns para os outros só é e será possível se o alicerce, a base, o fundamento disso for o amor genuíno e verdadeiro que vem de Deus; sem ele não há viabilidade e sustentabilidade, e qualquer relação ou relacionamento sucumbirá diante das decepções e frustrações em expectativas alimentadas sobre fundamentos humanos, frágeis e falhos.  
Wanderley t f 09/10/12