sexta-feira, 13 de março de 2015

Cansar sim, permanecer cansado, não.

            Uma antiga canção do grupo Rebanhão, chamada “Salas de jantar”, na primeira estrofe dizia assim:
            “As salas de jantar estão vazias
Os quartos coloridos estão desertos
A poesia que fala que as flores iam crescer
Estão amarrotadas, abandonadas no bolso dos poetas...
As notícias dos jornais só falam em morte
Morte! Morte! Morte!”
            Essa música deve ser da década de 80; hoje os jornais não falam só em morte, mas muitas outras coisas terríveis. Quase não há mais notícia boa. Há tanta sujeira, tanta corrupção, mudanças tão radicais no comportamento do ser humano, que ficamos cada vez mais impressionados e nos perguntando: aonde chegarão os homens com suas mudanças absurdas? Fato é que são muitas coisas que se acumulam e produzem em nós cansaço. Além dessas que já citei; a vida corrida, as rotinas, as aglomerações, o trânsito cada vez pior, a insegurança, a corrida desenfreada das pessoas em busca de dinheiro, a super valorização do ter em detrimento do ser; a busca pelo prazer a qualquer custo, a qualquer preço; o ensino, a busca do conhecimento, a corrida louca pelo saber e a incapacidade disso produzir nas pessoas princípios tão básicos como: educação de verdade e ética, tornando-as mais humanas e conscientes dos seus direitos e deveres, e também dos direitos dos outros; não apenas seus semelhantes, mas também a natureza que os cerca... ...isso também nos cansa. Cansamos de correr, de brigar, de dirigir, de concordar, de discordar, de lutar contra, ou a favor, de nos defender, de ensinar, de ver o erro se proliferar numa velocidade muito maior que o combate dele; cansamos dos religiosos que negociam a fé e abusam nos apelos por dinheiro, vendendo promessas retiradas de mentes gananciosas. Cansamos das injustiças e impunidades, cansamos das desculpas esfarrapadas e mentiras deslavadas dos que parecem pensar que todo mundo é doido, idiota ou ignorante. Cansamos das aparências sem essências, e da falta de transparência no que tentam esconder do que pagamos pra ver. Cansamos das cobranças, dos impostos,  da carga tributária  imposta sobre nós com retorno de proporção sempre inferior. Cansamos das promessas “compridas” para se eleger e logo esquecidas e não cumpridas depois que eleito foi. Cansamos da desvalorização da vida, das manipulações de quem manda, da felicidade incompleta, pela metade, em banda; como diz a canção: “vida de gado” ...vida de boi. Gente feito massa de manobra, se contorcendo como cobra pra sobreviver, enquanto elegem políticos cada vez mais ricos que se perpetuam no poder e zombam do povo que os emprega; e contra eles nada sabe ou consegue fazer. Isso cansa a gente. De repente, nos vemos cansados e nos sentimos só, como que no meio de um deserto lutando pra sobreviver e tentando ser feliz apesar de tudo. Mas as frustrações, as decepções são tantas e tão grandes que parece que realmente o que nos resta é apenas correr, alcançar qualquer coisa, continuar a correr, cansar, e depois morrer e descansar. 
Diante disso e de mais um tanto de coisas que poderia citar, posso dizer que nos cansamos mesmo. É legitimo nosso cansar. É quase verdade a frase que escrevi dias antes por puro reflexo do cansaço; “Um dia a gente corre, alcança, corre, cansa, morre... ...descansa.”  Mas a vida não é só isso. Há algo que muda totalmente essa idéia. Eu escrevi essa ultima frase e ela ficou na minha mente como reflexão, porque de alguma forma eu me recusava a acreditar que ela definia a vida. Mas o cansaço continuava, e a frase também. Numa bela manhã, enquanto dirigia mais uma vez no trânsito louco de cidade grande, me veio á mente o texto de Isaias 40: 28-31
 28 Não sabes, não ouvistes que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento.
29 Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.
30 Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem,
31 mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.
Meu coração então foi invadido por um conforto enorme. Mesmo diante de tudo que pode me cansar, e da realidade do fato de que cansar é legitimo, eu lembrei de que minhas forças podem ser renovadas em Deus. Lembrei que esperar em Deus é o que eu preciso para ter as forças renovadas a cada vez que me cansar. Diante disso eu sei que meu cansaço pode até existir, mas será por breve tempo, pois eu posso esperar em Deus e renovar minhas forças Nele. Lembrei-me de Josué e Calebe (Números 13) dois dos doze espias que foram espiar a terra prometida e quando voltaram eram os únicos que achavam que poderiam vencer os gigantes e tomar a terra que era deles por direito Divino. Depois de quarenta anos no deserto, Josué entra na terra prometida liderando o povo, e Calebe, que havia recebido a promessa aos 40 anos de idade, agora com 85 anos ainda tem coragem o suficiente para pedir um monte onde habitavam gigantes. Ele, apesar dos quarenta anos no deserto com um povo murmurador e rebelde, ainda tem forças para lutar e conquistar aquela montanha cheia de gigantes. (Josué 12) Forças renovadas em Deus.
Diante disso é que podemos até cansar, mas permanecermos cansados não!

Assim como Calebe, temos Deus e suas promessas. Precisamos continuar acreditando e dispostos a lutar, ainda que tudo que nos cerca sejam como que gigantes que nos exaurem, nos tiram as forças e ás vezes até as perspectivas de mudanças. Precisamos retornar para Deus e suas promessas e renovar nossas forças sempre. Wanderley tf 04/03/15