terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Lições do amor.



João 21:15-19

Um dia desses tive a oportunidade de parar e refletir um pouco com um grupo de casais amigos.  Pedi a cada uma das pessoas ali que escolhessem uma  outra pessoa e escrevesse alguma coisa legal que gostaria de dizer a ela. Depois cada um revelou o que havia escrito. Logo depois coloquei para que ouvissem a música do Frejat chamada: “ eu não sei dizer te amo”. A conclusão disso é que descobrimos que sabemos dizer boas coisas aos outros mas temos enorme dificuldade em dizer “eu te amo”.Naquele dia ninguém escreveu isso pra alguém. Continuamos nossa reflexão em um texto que descreve o reencontro de Jesus com Pedro depois da ressurreição de Jesus. Pedro havia negado seu mestre, aquele a quem disse estar disposto a morrer com ele se preciso fosse. Agora Pedro é confrontado, indagado, questionado... cara  a cara com Jesus, sem rodeios, de forma direta e clara Jesus pergunta uma, duas, três vezes: “ Pedro, tu me amas?” Quantas vezes você já ouviu essa pergunta? Sim, alguém já te fez essa pergunta. Mas pense no mestre Jesus lhe perguntando: Fulano, você me ama? ... não  há como passar por esse episódio sem aprender algumas lições muito preciosas pra nossa vida e para nossa relação com Deus e com as pessoas.

1-Quem ama diz.
Eu penso que dizer eu te amo não é exatamente a prova de que ama mesmo, mas quem ama deve dizer. O ato de dizer eu te amo a alguém não é simplesmente uma declaração  verbal,  mas também é um compromisso de ser coerente com essa declaração. Pedro acabara de negar Jesus; dissera ás pessoas que não era um dos que andava com ele, que não era um dos seus amigos. Agora Jesus o chama para uma declaração de amor, para verbalizar seu amor. Diga Pedro, você me ama? Comprometa-se Pedro declarando seu amor agora. Quem ama diz! Não é a capacidade de dizer boas coisas sobre alguém que nos leva ao comprometimento de amor; é a declaração “eu te amo” feita conscientemente, por alguém disposto a aprender e amar de verdade seguindo o exemplo maior, o de Jesus, que entregou-se numa cruz por amor. É isso que faz toda diferença quando se diz eu te amo. Pouco antes dessa reflexão eu havia descoberto que dizer eu te amo pra Deus não era uma prática comum pra mim. Então comecei a dizer enquanto falava com Deus; Deus, eu te amo.  Sei que Deus ouve isso e gosta, enquanto eu me esforço pra ser coerente com minha declaração de amor a Ele na vida prática. Pare e pense; a quantos você diz eu te amo?  A quantos você precisa dizer? Você ama? E por que não diz? Também pensamos em uma outra lição nesse episódio.

 2- Quem ama submete seu amor a avaliações constantes e ao padrão de qualidade de Deus.
Imagine a cabeça de Pedro com essa pergunta tão impactante vinda de alguém a quem ele acabara de negar. Pedro, tu me amas? Uma vez ele respondeu: “Sim, eu te amo”, mas ela se  repetiu por mais duas vezes. Uma pergunta para cada negação. Não temos a exata noção de quanto tempo durou esse diálogo, entre pergunta e resposta, mas pra quem havia dito estar disposto a morrer pelo mestre e pouco tempo depois por três vezes o negou, essa pergunta o levaria a reavaliar completamente seu amor por ele. Nossas palavras podem ser declarações de amor, mas são as atitudes que geram certezas ou dúvidas e ás vezes produzem perguntas inquietantes como essa. “Pedro, tu me amas?” “Fulano, tu me amas” Talvez o melhor a fazer é perguntar a si mesmo, antes que alguém o faça. É a avaliação constante do nosso amor, tendo como padrão de qualidade o amor de Deus, que nos leva, se não a, pelo menos o mais próximo possível do amor esperado. O Padrão de qualidade de Deus para nosso amor é descrito nas palavras de Jesus em João 13:34  “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; “Assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.” E também em 1 coríntios 13, e é demonstrado de forma absoluta na cruz do calvário.
Mas uma coisa deve ter ficado clara pra Pedro aquele dia. 

3- Quem ama não desiste.
Jesus havia sido abandonado e negado por quem o seguira por três anos e tinha feito declarações de que morreria com ele se preciso fosse. Pedro estava arrebentado, havia chorado amargamente, não conseguia libertar-se do trauma do canto do galo. Sua atitude ecoava na sua mente perturbada. Mas, Jesus que poderia tê-lo deixado sofrer as consequências de seu ato falho com a justificativa legítima de que Pedro não era confiável, faz exatamente ao contrário do que temos a tendência a fazer. Jesus o chama para uma conversa de amor. Vamos falar de amor Pedro. Vamos avaliar seu amor por mim e a possibilidade de você se comprometer a me amar de verdade daqui pra frente. Quem ama não desiste. Quem ama acredita sempre na possibilidade da restauração e na capacidade do outro em absorver as lições com os erros cometidos. Penso no amor de mãe quando ama verdadeiramente seu filho. Se ele está doente, ela está do lado, se ele erra, ainda que seja preso por isso, ela continua do seu lado e acreditando que será possível mudar. Me  emociono cada vez que ouço testemunhos de restaurações, de transformações, de gente que continua firme, ainda que lutando sempre contra as compulsões e as dependências químicas. Pedro fora reprovado no primeiro teste; perdera uma batalha, mas a guerra continuava. Era preciso lutar contra suas falhas de caráter, suas impulsões descontroladas e seu medo covarde de assumir cristianismo de verdade.  Jesus estava dizendo: não desista Pedro, eu não desisti de você. Pessoas que amamos podem nos decepcionar, frustrar todas as nossas expectativas, cometer erros inadmissíveis e absurdos, ainda assim, se Deus é capaz de perdoar e acreditar que é possível haver mudança, também nós precisamos acreditar nisso sem desistir. Mudar é sempre uma possibilidade e somente para os vivos. Então, enquanto houver vida é preciso acreditar que será possível mudar. Quem ama insiste, persiste e jamais desiste. Pedro, Pedro, Pedro... tu me amas? Tu me amas? Tu me amas?... Imagine quantas vezes mais essa pergunta ecoou na cabeça de Pedro, quantas vezes na vida ela retornou, em suas lutas contra as deficiências de sua humanidade e de seus impulsos tantas vezes ressurgentes. Mas Pedro guardava o significado de seu encontro com Jesus, na verdade o mais marcante, o maior de todos. Pedro, não desista; eu não desisti de você.        


4-Quem ama sacrifica-se e serve.
Além de perdoar, fazer com que Pedro verbalizasse seu amor, submetesse seu amor a uma reavaliação, entendesse que quem ama não desiste; agora também  Jesus faz Pedro comprometer-se a servir ainda que sacrificar-se fosse preciso. Pra muitos, amar é gostar de  estar perto, de estar  junto, é gostar da companhia e do que ela pode proporcionar. Foi o que aconteceu com Pedro. Era muito bom estar perto de Jesus, desfrutar de sua eloquência e sabedoria em ensinar; de sua capacidade em fazer coisas espetaculares, do status de ser um dos escolhidos dele para andar com ele. O grande problema foi a possibilidade de sofrer junto. Na hora do sofrimento, da parte ruim... opa, estou fora; essa parte eu não gosto, não quero. Jesus agora tinha seu exemplo para que Pedro soubesse o que e como era amar de verdade. Jesus mostrou na cruz que quem ama de verdade deve estar disposto a sacrificar-se. Amor não é apenas sentimento, é uma força propulsora de palavras e atos. Amor que não gera atitude, que não se propõe e se dispõe a sacrificar-se e servir, certamente precisa de reavaliação e submeter-se ao padrão de qualidade do amor de Deus declarado nos ensinamentos e demonstrado nas atitudes de Jesus que nem mesmo a morte de cruz se negou a enfrentar por amor.

5-Quem ama perdoa.
Uma das tarefas mais difíceis no relacionamento entre humanos é certamente perdoar. Foi o mesmo Pedro quem perguntou pra Jesus em Mt 18:21 se deveria mesmo perdoar sete vezes; ao que Jesus prontamente lhe respondeu: “não apenas sete mas setenta vezes sete.” E ele estava querendo ensinar que não há uma quantidade, um número exato de vezes que se deve perdoar, por que ninguém fará contas de quantas vezes perdoou até que complete quatrocentas e noventa vezes e depois disso não mais perdoa. Depois de perdoar umas
setenta vezes, perdoa-se sempre, que é exatamente o que Jesus espera que façamos. Perdoar é um esforço pessoal, um aprendizado, uma atitude habitual que se adquire praticando; mas acima de tudo perdoar não é uma opção ou uma escolha; é uma necessidade, um dever, um mandamento. Perdoar é um ato de amor mesmo que o perdão como ato de amor não elimine as consequências dos atos errados sobre quem perdoamos. Perdoar não é ser conivente com os erros de alguém, é uma consequência ou uma resposta ao arrependimento de quem errou, ou simplesmente um ato deliberado de liberar perdão a quem errou para que se necessário, esse alguém se arrependa e quem libera o perdão seja livre do peso de qualquer mágoa que possa carregar. Liberar perdão e perdoar não significa ter que viver perto, junto, ser amigo íntimo ou coisa parecida. Há que se respeitar o jeito de ser e viver e as diferenças de pensamentos e comportamentos que por vezes geram incompatibilidades que inviabilizam às vezes até a proximidade. Liberar perdão e perdoar é não carregar mágoas, rancores; é zerar toda e qualquer dívida. Mas somos biologicamente e psicologicamente diferentes e jamais agradaremos a todos ou teremos afinidade com todos para vivermos tão próximos e partilharmos tudo. Mesmo aqueles com os quais temos afinidade e liberdade para compartilharmos intimidades, ainda assim por vezes teremos conflitos e a necessidade de pedir perdão e perdoar. Pedro não fora perdoado naquele encontro, ele já havia sido perdoado bem antes, pois Jesus que o avisou da negação já estava disposto a perdoá-lo e já o tinha feito quando se encontrou com ele. Pedro havia chorado amargamente arrependido da besteira que fizera, e Jesus que havia liberado perdão e intercedido a Deus Pai que perdoasse aqueles que o mataram, não poderia ainda não ter perdoado Pedro. Portanto, perdoar e liberar perdão é um ato que envolve Deus e pessoas, mas antes de tudo é um ato pessoal, uma atitude individual. Não adianta dizer a alguém que o perdoou se você não fez isso de fato e de verdade interiormente. É um engano a quem se está declarando perdão, um possível engano a si mesmo, mas jamais será um engano para Deus que conhece exatamente as intenções do nosso coração. Liberar perdão e perdoar é um ato que pode preceder o encontro ainda que não o elimine, pois quando possível, é necessário que o encontro aconteça. Além disso, perdoar não é só um ato que se faz a outra pessoa, mas a si também. É preciso perdoar-se, sentir-se perdoado, se perdoado foi. Eu sei que Pedro, mesmo que tenha feito algo tão humanamente repugnante, a partir daquele encontro com Jesus ele sentiu-se livre do peso da culpa, da auto-culpa. Apenas a lembrança do que havia feito o acompanhava, mas agora ela estava acompanhada da certeza de que havia sido perdoado. A mulher adúltera apanhada em adultério que correu o risco de ser apedrejada recebera de Jesus as palavras mais libertadoras: “ nem eu tão pouco te condeno, vai e não peques mais.” Eu sei que ela foi embora flutuando, livre do peso da culpa e do pecado. Portanto, perdoar é também perdoar-se. Ainda mais; o perdão de Deus a nós está diretamente condicionado ao nosso perdão aos outros. “ Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai não vos perdoará as vossas ofensas.”  Mateus 6:15 Por maior que tenha sido o sofrimento pelo qual passamos; por maior que tenha sido a decepção a frustração e a dor, alimentar o ódio, a indiferença, a mágoa a raiva, ou seja qual for outro sentimento, acaba por nos fazer também culpados diante de Deus por não liberarmos perdão e não perdoar, mesmo a quem não merece. Aliás, o perdão elimina o merecimento. Não fomos e não somos perdoados por merecimento, e sim por graça, que é “favor imerecido”. Assim sendo, não podemos esperar que alguém mereça ser perdoado para que façamos isso.
A ciência já admitiu que perdoar faz bem a saúde, cura. Isso já estava na Bíblia há muito tempo. “Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. ” Tiago 5:16 Então perdoe, você não tem outra opção. 


Conviver com as falhas de caráter, suportar os tropeços e esperar pelo crescimento ainda que demore, não é tarefa fácil e só é possível por amor. Só com amor a gente é capaz de acreditar na possibilidade de mudança; só “o amor une os opostos, funde os extremos” e transforma inimigos em amigos e irmãos de fato e de verdade. Só o amor muda as intenções e transforma atitudes. Só o amor de verdade transforma covardes e medrosos em servos dispostos a doar-se e servir até á morte. Foi o amor de Jesus que constrangeu a Pedro e o transformou em servo e um dos homens mais importantes na história da igreja.
Portanto, ame e diga ainda que sofra; sirva, ainda que sacrificar-se seja preciso; perdoe, ainda que doa muito; não desista se Deus não desistir, e mantenha seu amor sob avaliação constante tendo como padrão de qualidade o amor de Deus.
wanderley tf - Fortaleza-CE 27/12/11