quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Intimidade profunda.





           A intimidade nem sempre é vivida de fato na sua total profundidade, mesmo onde ela poderia e deveria ser. Penso que a falta dela tem também sido a causa de muitos conflitos e não poucas relações frustradas. Com certeza há algumas razões pelas quais isso acontece; dentre elas, a falta de conhecimento do que é de verdade intimidade profunda e constantemente o conflito de interesses nas relações.
               Penso que é de vital importância entender que apenas o fato de serem amigos, namorados, noivos ou casados não os tornam extremamente próximos e íntimos. Também isso é aprendido e desenvolvido. Muitos confundem sexo com essas duas coisas. E apesar do ato exigir uma certa proximidade e intimidade, é preciso aceitar o fato de que ele não é sinônimo de extrema proximidade e intimidade profunda. Sexo é antes e primeiro de tudo uma relação física que pode acontecer sem nenhum envolvimento emocional ou compromisso maior e que vá além da busca do prazer físico. Mesmo numa relação estável, como o casamento, muitas vezes o sexo pode acontecer apenas como suprimento de carências físicas e às vezes até como uma tentativa de fuga ou para mascarar outros problemas. Pensando assim, podemos dizer que sexo pode até fazer parte de uma intimidade, mas ele não é necessariamente a comprovação de que existe intimidade profunda entre os que o praticam, ainda que sejam casados.
       Intimidade profunda pode se desenvolver em anos de convívio, mas ela também pode não existir, apesar deles. Intimidade profunda não nasce em qualquer amizade, nem no namoro, noivado ou mesmo no casamento. Nada disso é garantia da existência dela. Intimidade profunda tem muito mais a ver com afinidade e confiança do que com todas essas coisas. É principalmente quando essas duas coisas estão presentes numa relação que a intimidade se desenvolve mais profundamente. Ninguém será profundamente intimo de alguém com quem não tem afinidade; muito menos de quem em quem não confia absolutamente. Por isso é tão importante perceber isso antes do casamento, para não correr o risco de estabelecerem uma relação onde tanto faz-se necessário uma intimidade profunda, e ela não desenvolver-se, exatamente pela falta de afinidade e confiança. Agora talvez você pergunte: então, o que é afinidade? De verdade não é fácil explicar isso, mas nesse ponto de nossa reflexão torna-se imprescindível entendê-la, ainda que não seja completamente possível defini-la aqui. Afinidade para mim, dentre outras coisas, é antes de mais nada um encontro de pessoas que descobrem entre si, de forma muito natural uma sintonia muito grande. É uma descoberta, não é algo produzido. Geralmente possuem muitas peculiaridades semelhantes. Compartilham gostos muito parecidos, estilos, pensamentos e uma amizade que vai muito além da superficialidade da maioria delas. Possuem uma enorme capacidade de se entenderem, às vezes até mesmo calados, distantes, ou apenas com olhares. A afinidade gera uma grande sensibilidade e uma percepção enorme das mínimas peculiaridades do outro. A amizade é marcada geralmente por uma cumplicidade muito grande, com liberdade para compartilhar assuntos muito particulares em total e absoluta confiança. Estar perto, junto; caminhar, conversar, se divertir... é sempre um prazer. Isso pra mim é afinidade. Ás vezes essa afinidade aparece entre pessoas que tomam rumos diferentes na vida, mas nem por isso ela deixa de existir. Como já vimos, intimidade não tem necessariamente a ver com sexo. Por isso, é muito possível e muitas vezes ela existe mesmo entre amigos de forma muito natural e intensa. Intimidade profunda está em uma relação de absoluta confiança, de liberdade, de transparência. Intimidade é a capacidade de conhecer profundamente o outro enquanto se permite ser conhecido também. Intimidade é conhecer os detalhes, a personalidade, os desejos mais íntimos, as lutas mais secretas ainda que sejam absurdas. Intimidade é a capacidade de olhar no olho, no fundo dele e dizer a verdade ainda que doa, que machuque, fira; apenas pelo simples fato de que só a verdade liberta, cura e transforma. E dizer a verdade, é tanto em exortar quanto confessar, pois em ambos os casos, a necessidade e os benefícios são os mesmos. Mas intimidade profunda só é e será possível quando não existir ameaças ou possibilidades de condenação e rejeição da pessoa; quando quem ouve for capaz de separar a pessoa de seus erros, rejeitando os erros da pessoa, não ela. Quando o amor , o respeito às diferenças, ao estilo, jeito de ser, pensar e viver esteja acima e primeiro que tudo. Mesmo quando e ainda que às vezes as mudanças necessárias sejam quase impossíveis de serem enxergadas a olho humano; porque não temos a obrigação nem o poder de mudar as pessoas, apenas de ajudar e permanecer do lado, junto, perto, até que, quando ou talvez aconteçam as mudanças; e elas sempre acontecem, mesmo que não sejam na velocidade e quantidade que gostaríamos.
          Quando disse no principio que a intimidade nem sempre é vivida de fato na sua total profundidade, mesmo onde ela poderia e deveria ser estava pensando no convívio mais próximo e que nos absorve a maior parte do tempo, que é o casamento.  Infelizmente, nem sempre isso é possível por que as diferenças às vezes são enormes entre os casados, e às vezes há enormes conflitos de interesses muito pessoais que nem sempre estão dispostos a abrir mão. Mesmo assim, continuo acreditando que é possível e imprescindível buscar essa intimidade o mais profundo possível, mesmo que para isso seja preciso abrir mão de muita coisa. Ainda assim, há que se respeitar o fato de que de maneira muito natural alguém precisa e certamente será intimo de alguém, pela razão simples de que todos nós precisamos falar a verdade com alguém em quem confiamos o bastante e que seja capaz de ouvir sem julgar, condenar ou rejeitar, ainda que discorde das atitudes, dos erros e fatos e seja capaz de também dizer a verdade, ainda que seja dura, difícil, que fira, machuque, mas com a certeza de que essa é uma parte do amor que cura e liberta. Nenhum ser humano tem apenas necessidades físicas, materiais ou financeiras e enxergar apenas essas necessidades e desconsiderar as carências do coração e da alma de alguém é considerar uma pequena parte dele e desprezar sua essência.     


...intimidade.
 Perco-me nos teus braços, me encontro nos teus beijos, reconheço teus traços, não me são estranhos teus desejos. És pecadora sim, mas ás vezes, pura como límpida fonte; conheço tuas curvas, teus vales, planícies e montes. És bela, como formosa roseira; teus olhos, como duas cachoeiras, vertem águas que saem da alma, do fundo profundo da alegria ou da dor. De dias bons manténs a lembrança, por dias melhores, a esperança. Por vezes padeces calada, mas às vezes se desmanchas em palavras, procuras respostas, sentido pra vida, e como qualquer outra às vezes apega-se a uma ilusão colorida; desejas o arco-íris ou no mínimo um pouco de cor, e que sempre haja  paz, carinho, afeto, amor.

wanderley t f 07/11/12