A intimidade
nem sempre é vivida de fato na sua total profundidade, mesmo onde ela poderia e
deveria ser. Penso que a falta dela tem também sido a causa de muitos conflitos
e não poucas relações frustradas. Com certeza há algumas razões pelas quais
isso acontece; dentre elas, a falta de conhecimento do que é de verdade
intimidade profunda e constantemente o conflito de interesses nas relações.
Penso
que é de vital importância entender que apenas o fato de serem amigos, namorados,
noivos ou casados não os tornam extremamente próximos e íntimos. Também isso é
aprendido e desenvolvido. Muitos confundem sexo com essas duas coisas. E apesar
do ato exigir uma certa proximidade e intimidade, é preciso aceitar o fato de
que ele não é sinônimo de extrema proximidade e intimidade profunda. Sexo é antes
e primeiro de tudo uma relação física que pode acontecer sem nenhum
envolvimento emocional ou compromisso maior e que vá além da busca do prazer
físico. Mesmo numa relação estável, como o casamento, muitas vezes o sexo pode
acontecer apenas como suprimento de carências físicas e às vezes até como uma
tentativa de fuga ou para mascarar outros problemas. Pensando assim, podemos
dizer que sexo pode até fazer parte de uma intimidade, mas ele não é
necessariamente a comprovação de que existe intimidade profunda entre os que o
praticam, ainda que sejam casados.
Intimidade profunda pode se desenvolver em anos de
convívio, mas ela também pode não existir, apesar deles. Intimidade profunda não
nasce em qualquer amizade, nem no namoro, noivado ou mesmo no casamento. Nada
disso é garantia da existência dela. Intimidade profunda tem muito mais a ver
com afinidade e confiança do que com todas essas coisas. É principalmente
quando essas duas coisas estão presentes numa relação que a intimidade se
desenvolve mais profundamente. Ninguém será profundamente intimo de alguém com
quem não tem afinidade; muito menos de quem em quem não confia absolutamente.
Por isso é tão importante perceber isso antes do casamento, para não correr o
risco de estabelecerem uma relação onde tanto faz-se necessário uma intimidade
profunda, e ela não desenvolver-se, exatamente pela falta de afinidade e
confiança. Agora talvez você pergunte: então, o que é afinidade? De verdade não
é fácil explicar isso, mas nesse ponto de nossa reflexão torna-se imprescindível
entendê-la, ainda que não seja completamente possível defini-la aqui. Afinidade
para mim, dentre outras coisas, é antes de mais nada um encontro de pessoas que
descobrem entre si, de forma muito natural uma sintonia muito grande. É uma
descoberta, não é algo produzido. Geralmente possuem muitas peculiaridades
semelhantes. Compartilham gostos muito parecidos, estilos, pensamentos e uma
amizade que vai muito além da superficialidade da maioria delas. Possuem uma
enorme capacidade de se entenderem, às vezes até mesmo calados, distantes, ou
apenas com olhares. A afinidade gera uma grande sensibilidade e uma percepção
enorme das mínimas peculiaridades do outro. A amizade é marcada geralmente por
uma cumplicidade muito grande, com liberdade para compartilhar assuntos
muito particulares em total e absoluta confiança. Estar perto, junto; caminhar,
conversar, se divertir... é sempre um prazer. Isso pra mim é afinidade. Ás
vezes essa afinidade aparece entre pessoas que tomam rumos diferentes na vida,
mas nem por isso ela deixa de existir. Como já vimos, intimidade não tem
necessariamente a ver com sexo. Por isso, é muito possível e muitas vezes ela
existe mesmo entre amigos de forma muito natural e intensa. Intimidade profunda
está em uma relação de absoluta confiança, de liberdade, de transparência.
Intimidade é a capacidade de conhecer profundamente o outro enquanto se permite
ser conhecido também. Intimidade é conhecer os detalhes, a personalidade, os
desejos mais íntimos, as lutas mais secretas ainda que sejam absurdas.
Intimidade é a capacidade de olhar no olho, no fundo dele e dizer a verdade
ainda que doa, que machuque, fira; apenas pelo simples fato de que só a verdade
liberta, cura e transforma. E dizer a verdade, é tanto em exortar quanto confessar,
pois em ambos os casos, a necessidade e os benefícios são os mesmos. Mas
intimidade profunda só é e será possível quando não existir ameaças ou
possibilidades de condenação e rejeição da pessoa; quando quem ouve for capaz
de separar a pessoa de seus erros, rejeitando os erros da pessoa, não ela.
Quando o amor , o respeito às diferenças, ao estilo, jeito de ser, pensar e
viver esteja acima e primeiro que tudo. Mesmo quando e ainda que às vezes as
mudanças necessárias sejam quase impossíveis de serem enxergadas a olho humano;
porque não temos a obrigação nem o poder de mudar as pessoas, apenas de ajudar
e permanecer do lado, junto, perto, até que, quando ou talvez aconteçam as
mudanças; e elas sempre acontecem, mesmo que não sejam na velocidade e
quantidade que gostaríamos.
Quando disse no principio que a intimidade nem
sempre é vivida de fato na sua total profundidade, mesmo onde ela poderia e
deveria ser estava pensando no convívio mais próximo e que nos absorve a maior
parte do tempo, que é o casamento. Infelizmente, nem sempre isso é possível por
que as diferenças às vezes são enormes entre os casados, e às vezes há enormes conflitos
de interesses muito pessoais que nem sempre estão dispostos a abrir mão. Mesmo
assim, continuo acreditando que é possível e imprescindível buscar essa
intimidade o mais profundo possível, mesmo que para isso seja preciso abrir mão
de muita coisa. Ainda assim, há que se respeitar o fato de que de maneira muito
natural alguém precisa e certamente será intimo de alguém, pela razão simples
de que todos nós precisamos falar a verdade com alguém em quem confiamos o
bastante e que seja capaz de ouvir sem julgar, condenar ou rejeitar, ainda que
discorde das atitudes, dos erros e fatos e seja capaz de também dizer a verdade,
ainda que seja dura, difícil, que fira, machuque, mas com a certeza de que essa
é uma parte do amor que cura e liberta. Nenhum ser humano tem apenas
necessidades físicas, materiais ou financeiras e enxergar apenas essas
necessidades e desconsiderar as carências do coração e da alma de alguém é considerar
uma pequena parte dele e desprezar sua essência.
...intimidade.
Perco-me nos teus braços, me
encontro nos teus beijos, reconheço teus traços, não me são estranhos teus
desejos. És pecadora sim, mas ás vezes, pura como límpida fonte; conheço tuas
curvas, teus vales, planícies e montes. És bela, como formosa roseira; teus
olhos, como duas cachoeiras, vertem águas que saem da alma, do fundo profundo da
alegria ou da dor. De dias bons manténs a lembrança, por dias melhores, a esperança.
Por vezes padeces calada, mas às vezes se desmanchas em palavras, procuras
respostas, sentido pra vida, e como qualquer outra às vezes apega-se a uma
ilusão colorida; desejas o arco-íris ou no mínimo um pouco de cor, e que sempre
haja paz, carinho, afeto, amor.wanderley t f 07/11/12
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