terça-feira, 15 de julho de 2008

Desigualdade social, um problema de muitos, responsabilidade de todos.





Com o coração incomodado diante da enorme carência social, me sinto desafiado a ajudar. Mas diante do desafio enorme, não posso fazer isso sozinho. Sinto-me muito pobre diante do tamanho da carência do mundo, mas não mais pobre que alguém que tem muito, mas permanece indiferente diante da miséria em que muitos vivem. Ou mesmo aqueles que apesar de não terem muito, mas ainda assim não é tão pouco que não possam repartir, no entanto, são muitas vezes insensíveis. Não consigo e certamente jamais conseguirei esquecer aquela imagem que rodou o mundo, de uma criança fraca e desnutrida, no meio do deserto africano à espera da morte, enquanto um abutre a observa esperando para se alimentar da mesma. Isso dói tanto... Também trago na lembrança uma reportagem mais recente, onde em um dos sertões brasileiros o repórter encontrou uma família de cinco pessoas que usavam a mesma escova de dente. Fiquei impressionado com isso; pois como pode algo tão básico e pessoal ter de ser dividido entre cinco pessoas? Principalmente em um país com riquezas tão grandes, que se gloria de ter reservas para pagar até a monstruosa dívida externa. Continuo perplexo diante da enorme desigualdade do mundo, mas não precisamos olhar para todo ele para ver isso numa proporção assustadora. Basta olhar aqui mesmo, no nosso país, e então vamos encontrá-la de forma muito evidente e em um tamanho que talvez seja o maior do mundo. Não posso entender nem aceitar o fato de uns terem tanto e outros não terem praticamente nada. Que fique claro, que o problema pra mim, não é o fato de alguém ter muito, mas muitos não terem praticamente nada; nem mesmo o básico do básico. Não me conformo com o desperdício e nem com aquilo que é gasto com exagero para o prazer ou para satisfazer caprichos, enquanto há tantas carências, prioridades e formas de fazer o bem, muito mais importante que o simples fato de satisfazer aos desejos, os caprichos ou aos prazeres com valores exorbitantes. Eu sei que essa é uma realidade que não posso mudar sozinho e nem me atrevo a querer fazê-la por completo; quero apenas fazer a minha parte agregando à minha pouca força as forças de tantos quantos quiserem, puderem e se dispuserem a fazer algo, impulsionados pela insatisfação diante da injustiça social; ainda que seja pouco, mas que certamente será mais do que nada fazer. Mesmo que a desigualdade do mundo me incomode muito, sei que preciso me concentrar onde estou, onde posso alcançar os que padecem, com mais facilidade; no caso, meu país. A miséria dos que padecem não se resume apenas à fome, muito embora ela esteja presente em muitos lares brasileiros. Não é apenas comida que falta, mas faltam também moradias dignas, educação e noções básicas para uma vida mais equilibrada e menos sofrida. Falta àqueles que detêm o poder,a capacidade de dar direções a muita gente que não adquiriu o mínimo conhecimento possível para administrarem a própria vida. Verdade é que os programas que contemplam alguns com quantias em dinheiro, resolve apenas em parte o problema, mas acaba por alimentar e nutrir outros, mantendo a muitos completamente dependentes de tais programas, que apesar de já ser alguma coisa, está longe de ser algo que proporcione uma vida realmente digna a quem é assistidos por eles. E isso se agrava com a pobreza de muitos, que acabam acomodando-se enquanto sobrevivem com apenas a pequena ajuda que recebem de tais programas. Ainda que a intenção seja boa, quando condiciona ajuda à família carente à participação das crianças na escola, por outro lado isso é insuficiente diante da educação muitas vezes precária, e ainda, em muitos lugares do país, quase irrelevante. Também existem outras tentativas de ajuda, realizadas através de campanhas de arrecadação de recursos. São muito válidas; mas apesar de arrecadarem grandes quantias em doações, também não conseguem atingir a todos que precisam e carecem de ajuda.

Penso que o melhor caminho para investir no ser humano é começando enquanto criança, pelo fato de ser mais fácil moldá-las no crescimento, que mudar adultos crescidos e endurecidos pelo tempo. Mas não simplesmente investir nelas apenas, mas na geração delas. São as crianças de lares desestruturados que formarão novos lares desestruturados, se não forem acompanhadas até que possam ser multiplicadoras de uma geração que cresce com organização e estrutura sólida, mantendo padrões de uma vida digna, enquanto olha também para o lado para enxergar o outro que padece. Penso que é preciso acompanhá-las até que o padrão de vida digna se torne cultura, com o recheio de uma boa educação e princípios cristãos capazes de nortear a vida. É tão simples de entender que os adultos de hoje, que os pais de famílias carentes, que os bandidos, criminosos, assassinos, ladrões, estupradores, pedófilos... um dia já foram crianças, que muito provavelmente cresceram em meio ao crime, oprimidos pela desigualdade em todos os sentidos. Não há como negar e fugir da realidade de que o ser humano, criado por Deus, e corrompido pelo pecado precisa de direção, sem a qual segue com uma tendência sempre para o mal. É claro que enquanto se investe nas crianças não se pode excluir os adultos, pois de alguma forma o investimento na vida deles também deve acontecer, mas o foco principal é a geração que se desenvolve para ser diferente no futuro próximo, e consequentemente mudar a realidade. Mas o que fazer diante da carência enorme, do tamanho do estrago, da desigualdade que afeta a tantos e que acaba atingindo outros tantos como conseqüência? Impossível mudar a realidade? É uma resposta que não me atrevo a dar, prefiro pensar que é preciso e possível fazer algo; que é fazendo alguma coisa, mesmo que seja pouco, que se consegue mudar. Ainda que seja pouco, mas o pouco de alguém agregado ao de outros, certamente produzirá resultados relevantes. Sei que o que não podemos fazer é esperar por quem quer que seja que deveria fazer e não faz. Penso que muitos daqueles que deveriam fazer e não fazem, são os mesmos que mantém o povo alienado, pagando por direitos e coisas que não recebem. O povo que paga salários enormes para seus representantes, e contribui com o país com uma quantidade e porcentagem grande do que ganha, cobrados através de impostos; enxerga cada vez mais seus representantes enriquecerem através de falcatruas; e sua contribuição, que junta faz um montante enorme, é muitas vezes desperdiçada país a fora. Mas como disse, não dá pra ficar esperando por quem deveria fazer e não faz, pois enquanto isso acontece, aumenta a cada dia o número de famílias carentes e lares que se desenvolvem sem o mínimo de estrutura para uma vida digna. Crianças aderem ao crime cada vez mais cedo, iniciam a vida sexual precocemente e trazem ao mundo filhos indesejados, e acumulam problemas que se evidenciam na sociedade, quer ela queira ou não. Ficar esperando por quem deveria fazer e não faz, enquanto podemos nós fazer, ainda que seja pouco, mas não fazemos, pode nos fazer tão culpados quanto. É preciso que uns contagiem outros, e de certa forma, que muitos se sintam constrangidos a ajudar. Aliás, penso que isso é um prazer que muitos precisam descobrir. Entendo que muitos até queiram fazer isso, mas falta-lhes os meios; que precisam exatamente de instrumentos, de instituições sérias, de alguém que seja ponte, que descubra as carências e que tenha meios de ajudar, repassando recursos com sabedoria e honestidade. Outros, no entanto, precisam mesmo aprender a fazer isso; precisam descobrir o prazer de ajudar e sentirem-se recompensados em ver o bem que produzirá a a ajuda dada a quem padece. É certo que diante das enormes carências do mundo, às vezes falta-nos até a exata noção do tamanho dela. Somos tentados a desistir antes mesmo de começar qualquer movimento para ajudar os que padecem; muito provavelmente pelo tamanho da carência, desproporcional ao tamanho de nossas forças ou capacidade. Ou talvez por vermos a falta de interesse de muitos, que poderiam fazer muito, mas permanecem indiferentes à miséria humana. Mas alguém tem que começar, alguém tem que dar e ser exemplo, alguém tem que contagiar outros pelo esforço e doação; até de si mesmo, em prol do outro... Alguém tem que mostrar que é possível; mesmo que não seja resolver o problema do mundo, mas no mínimo ajudar a muitos a viverem com dignidade. É preciso, no entanto, entender e jamais abrir mão da verdade absoluta de que direitos e deveres andam juntos. Que não há como separar a vida do trabalho; não há como separar o saber do esforço e dedicação para aprender; não há como separar pão de cada dia, de trabalho digno; não há como existir vida digna, abrindo mão de princípios e valores fundamentais a ela. Como já disse, não é apenas pão, comida; o problema não é apenas fome; é um conjunto de coisas que se acumulam, se desenvolvem, evoluem no tempo, e que vai passando de geração para geração. É muitas vezes uma cultura, um ciclo que se forma entre gerações que nasceram em meio à carência e se perpetuam sem encontrarem a saída para uma vida melhor. É certo que jamais iremos conseguir acabar com a miséria, com os criminosos e tudo aquilo, que de uma forma ou de outra são frutos, resultados, conseqüências de uma desigualdade, injustiça social e principalmente a falta de Deus que atinge a muitos. Mas se investirmos de forma relevante nas pessoas e principalmente nas crianças; mas não apenas nelas, mas na geração que se forma a partir delas, é muito provável que os resultados sejam bem positivos.



Recuso-me a passar pela humanidade e não fazer nada por ela. Ver tanta gente vivendo na miséria absoluta, enquanto outros esbanjam e gastam quantias enormes com aquilo que diante do valor do ser humano torna-se irrelevante; isso é mesmo um incômodo em mim.



Com certeza nem todos aqueles que receberem investimento responderão de forma positiva, por isso é certo que sempre haverá decepções; mas se tivermos feito a nossa parte, o que podíamos fazer, isso já nos servirá de consolo, além do fato inegável de que não podemos prever quem responderá positivamente e quem não; ainda assim prefiro acreditar que os que responderão positivamente serão sempre mais que ao contrário.



Não luto por igualdade em tudo; até por que, sei que isso é impossível. Gostaria apenas que todos tivessem igualdade no básico. Educação, saúde, alimentação e moradias dignas. E nisso sei que seria possível, se houvesse uma conscientização e boa vontade do mundo, onde uns compram carros de milhões enquanto outros não possuem meios de transporte dignos, e não poucas vezes isso provoca a morte de muitos à míngua, por não terem como ser socorridos a tempo. Enquanto uns possuem mansões milionárias, outros moram em barracos de lona, em condições subumanas de sobrevivência. Enquanto uns gastam milhares com hospedagens e pratos exóticos, com valores que assustam, outros moram nas ruas, comem o que encontram no lixo, e não poucos morrem desnutridos por não terem o que comer. Entendo que uma coisa não precisa exatamente excluir a outra; como disse, não luto por igualdade, mas pelo básico e entendo que é plenamente possível para muitos manterem o padrão de vida, mesmo que seja milionária, sem que o outro viva na absoluta miséria, sem o mínimo possível para uma vida digna. Mas também entendo que isso é uma compreensão que talvez jamais atinja a todos, principalmente aqueles que se mantêm muito mais ligados às riquezas da terra que aos tesouros no céu. (Mateus 6:19-21) Diante de tudo isso, o que nos resta mesmo é fazer o melhor que pudermos com o que tivermos, até que muitos sejam despertados e também passem a contribuir para mudar a realidade de muitos que sofrem. O que não podemos mesmo é permanecer inertes diante da enorme carência que enxergamos à nossa frente, enquanto esperamos por quem deveria fazer e não faz; enquanto ouvimos os debates vazios daqueles que falam muito dos problemas, mas, se não são causadores de muitos deles, no mínimo ajudam a mantê-los, por não estarem realmente dispostos a pagar o preço em busca de soluções. E muitas vezes até possuem condições, meios e formas de fazer o bem para muitos, mas interessam-se muito mais por aquilo que pode trazer mais fama, glamour, status, bens e riquezas. Poucos estão realmente dispostos a fazer algo, e não poucos são contagiados pela indiferença dos outros e permanecem inertes, indiferentes e tão culpados quanto. Entendo que muitos não fazem nada por que não conseguem mesmo ver; vivem em um nível e em um padrão de vida tão distante dos que padecem, que falta-lhes mesmo a noção do tamanho da carência dos que sofrem. No entanto, outros não se importam mesmo; possuem corações cheios de egoísmo, ganância, avareza... Controlados por essas coisas, o amor ao próximo é praticamente inexistente. Entendo que é preciso alguém enxergar e mostrar insistentemente, incansavelmente, evidenciando os problemas para aqueles que não enxergam; o drama de quem não tem moradias dignas, não tem educação de qualidade, não possuem condições básicas de sobrevivência. Crianças, tão vulneráveis, peculiaridade da própria infância, de personalidade ainda indefinida e por isso mesmo, maleável. Muito cedo se envolvem no crime, e muitas vezes os cometem da mesma forma que os adultos. Expostas às carências, vivendo praticamente sem limites, sem noção de valores morais e éticos, sem referenciais e absolutos, são facilmente seduzidas por qualquer coisa que lhes pareça dar prazer, qualquer vantagem ou ganho de qualquer coisa. Em um país onde a prostituição é praticamente institucionalizada, pregada, defendida e incentivada de várias formas; onde a pornografia tornou-se algo muito normal; as crianças não estão livres, e muitas, muito cedo se prostituem, muitas vezes apenas para se alimentarem. Muitas crianças que convivem com pais dependentes químicos, viciados em drogas, são expostas àquilo que a infância absorve e que certamente trará conseqüências para o resto da vida. Mas o desafio não é apenas mostrar, como muitos programas de TV o fazem, expondo tragédias humanas, e de certa forma até banalizando-as; mas na realidade, são insuficientes em busca de soluções realmente práticas. Por isso, entendo que não basta mostrar; é preciso ver e fazer. Mais que debater os problemas é preciso buscar soluções práticas. É preciso investir e acreditar que a diferença que a ajuda fará na vida de alguns, atingirá outros como conseqüência natural, assim como a falta de ajuda faz perpetuar a vulnerabilidade de não poucos de geração em geração. Aliás, por falar em vulnerabilidade, a sociedade acaba usando termos assim e de certa forma definindo toda a miséria em termos como: estado de vulnerabilidade social ou situação de risco. Sinceramente, pra mim, isso é uma forma de eufemismo que resume tudo, mas não expressa de forma clara a real situação de miséria em que muitos vivem. Mas quem sabe a idéia seja exatamente essa; não esconder, mas também não mostrar como deveria; e assim, não expõe e também não trata e não cuida.



Como disse, quero fazer a minha parte, mas sei que o que posso fazer sozinho é muito pouco. Na verdade nem sei o que posso fazer, mas sei que devo fazer o que puder. No mínimo quero disponibilizar os dons que Deus me deu, e não só os dons, mas a mim mesmo se preciso for, para que sob a direção de Deus eu seja usado para fazer algo em prol dos que padecem. Por enquanto, escrever sobre o assunto é parte do que posso fazer.



Tudo que escrevo aqui, considero apenas um convite à reflexão do que há por fazer, do que temos feito, e do que ainda devemos e podemos fazer. Penso que não adianta muito ficar a falar dos problemas que nos cercam, dos que não conseguem ver, dos que criam tais problemas, se não dermos exemplo fazendo nossa parte. Penso que no mínimo, quem enxerga deve mostrar a quem não vê, enquanto dá exemplo fazendo algo em prol de uma vida digna para alguns. É preciso que as insatisfações e as intenções transformem-se em atitudes práticas; pois quando essas coisas não são no mínimo externadas, não produzem movimento em busca de mudar a realidade, não fazem sentido, são inúteis, irrelevantes. É preciso fazer, ainda que seja pouco. Penso que a começar de nós, cristãos, precisamos avaliar e reavaliar sempre; se não nossa culpa; nossa conivência com a prática de uma sociedade muitas vezes capitalista, materialista, egoísta, gananciosa; que possui teorias muito diferentes da prática, ou mesmo, que inventa suas próprias teorias para fundamentar suas práticas, e que muitas vezes reduz o valor da vida humana à insignificância. Penso que precisamos avaliar nossas prioridades, nossos investimentos e gastos. Mas sei que isso só acontecerá quando for possível enxergar e avaliar opções de investimento. Quando houver a capacidade de olhar para a carência enorme do ser humano e entendendo o valor da vida humana, considerarmos o investimento uma opção e muitas vezes uma prioridade. Penso que a começar de nós cristãos, precisamos fugir da tentação de permanecermos no belo e apaixonado discurso do amor ao próximo, que muito provavelmente era usado pelo sacerdote e o levita de Lucas 10:25-37; para a atitude de amor na prática, do bom Samaritano, encontrado no mesmo texto. Aliás, esse texto precisa servir de auto-avaliação sempre pra cada um de nós. Qual tem sido nossa atitude diante dos que sofrem, dos feridos, dos machucados, dos que sentem dor, dos que passam fome, frio e sede? Há a atitude de sentimento, que penso ter sido a do sacerdote e do levita do texto já citado. Muito provavelmente eles sentiram dó daquele homem ferido e caído à beira do caminho, mas não fizeram absolutamente nada de prático por ele que pudesse ajudá-lo; muito ao contrário da atitude do bom samaritano. É claro que existem muitos bons samaritanos por aí, e louvo a Deus pela vida deles. Também louvo a Deus pelas instituições e ministérios que tem sido como ‘ponte sobre as águas, farol, abrigo no deserto’ para muitos. Estes têm transformado o discurso do amor ao próximo em atitudes práticas. Por isso, mais que o desejo de que eles continuem; também desejo que muitos se juntem a eles, agreguem suas forças à deles, para que possam fazer muito mais do que já fazem. Como já disse; o pouco que alguém faz já é mais do que nada fazer. Então penso em quantos ainda precisam se envolver; sair da zona de conforto e fazer da auto-avaliação uma prática constante, para não correr o risco de terem um cristianismo muito mais de sentimento, e palavras que de atitudes realmente práticas. Diante disso, não posso deixar de citar Tiago que diz: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tiago 1:27)



Enquanto penso na desigualdade social enorme; na sociedade que de certa forma a cria e ajuda mantê-la, fazendo distinção de raça, cor, condição social, status; permitindo e ajudando a manter concentrações de renda; não excluo de minha análise as igrejas, enquanto organizações e conseqüentemente maiores concentrações de força diante dos enormes desafios. Fico a pensar nos investimentos e gastos e sinceramente, confesso que meus questionamentos não são de agora. Já há algum tempo penso no quanto poderia ser feito se houvesse uma preocupação muito maior com a proclamação do evangelho em detrimento da busca pelo conforto, às vezes até exagerado de alguns. Meu coração enxerga igrejas pobres em lugares difíceis, comunidades carentes, povoados pobres e etc. lutando pela existência; muitas vezes pastoreadas por homens de fé e coragem, mas despreparados; não por culpa deles, muitas vezes, mas pela falta de investimento nos mesmos, que passam muito tempo dando e recebem muito pouco ou quase nada, e portanto carentes de reciclagem e de serem pastoreados também. Além do fator financeiro, que muitas vezes é causa de grande sofrimento para eles, por causa da ajuda de custo que recebem, às vezes quantias irrisórias. Ou até mesmo muitos lugares onde não há uma comunidade relevante... Enquanto vejo isso, também vejo muitas vezes a preocupação com prédios luxuosos; gastos e investimentos enormes, muito mais em busca de agradar salvos, que em busca de salvar os perdidos. Concentração de investimentos e gastos enquanto há tanto por fazer, e tantos lugares carentes do evangelho, que muitas vezes poderiam ser alcançados pela atitude simples de preocupar-se mais com os perdidos que com o conforto para os já alcançados. Não que não mereçam nenhum, ou que não sejam importantes, mas já que estamos falando em desigualdade, por que não refletirmos também sobre isso, pensando se não é justo, preciso e possível; pelo menos o básico para aqueles que servem, entregando-se para pregar o evangelho e se dedicam a isso, mesmo em condições muitas vezes muito adversas. Além disso, não podemos esquecer, que ‘Deus não habita em templos feitos por mãos humanas.’ Por isso, os maiores investimentos e gastos devem mesmo ser em prol daqueles onde Deus habita, ou quer habitar. Mais uma vez, quero deixar claro que sou consciente de que existem grandes investimentos concentrados em alguns lugares, que visam a proclamação do evangelho de forma relevante e impactante para o maior número possível, e assim o resgate e a salvação de muitos. Louvo a Deus por iniciativas assim, pela visão e empreendimento e principalmente por que sei que o alvo maior são os não salvos. Por isso, a principal preocupação não é com o conforto dos salvos, mas com instalações funcionais e práticas que proporcione um lugar agradável e ambiente propício à pregação, reflexão e transformação de muitos. Diante disso, minha reflexão é sobre o quanto poderíamos fazer, se a preocupação de todos, fosse atingir o maior número possível. Penso que as igrejas, como já disse, enquanto organizações e concentrações de força, precisam avaliar seus investimentos e gastos sempre, para não permitirem que aquilo que é secundário tome o lugar do que é prioridade; que é a pregação do evangelho ao maior número possível. Quantas comunidades carentes espalhadas pelo Brasil carecem do evangelho, e quantos até se dispõem a ir, mas falta-lhes as condições básicas, ou quando lá estão sofrem pelas condições precárias, e não poucas vezes, a falta de apoio das comunidades que já possuem uma boa estrutura e que com um pouco de boa vontade e esforço poderiam conceder valiosa ajuda. Enfim, penso que precisamos aproveitar essa reflexão sobre desigualdade social, para que as igrejas também avaliem a existência de uma desigualdade em relação à própria missão da igreja e o que pode ser feito para que o maior número possível possa ter a oportunidade de ouvir o evangelho de forma relevante. Penso que se qualquer avaliação resultar em ajuda no esforço de pregar o evangelho em detrimento daquilo que é secundário, já será um progresso e um exemplo a ser seguido.



Com certeza, essas coisas ditas aqui são de um coração apaixonado por igreja local. Que acredita na força e no grande potencial que existe numa igreja que cresce, se fortalece, se prepara, se dispõe e depende de Deus para fazer grandes coisas para Ele. Mais do que pão a quem tem fome, a igreja pode levar a verdade que liberta e transforma, curando as feridas, restaurando vidas e mudando perspectivas; ou mesmo produzindo em quem não as tem . Os desafios são enormes diante da carência do mundo. Sozinho eu sei que não posso fazer muito, mas não posso me acomodar e calar; no mínimo posso continuar a incomodar os acomodados e convidando a todos à reflexão sobre o tamanho do desafio e o que devemos e podemos fazer diante dele. Que Deus nos abençoe e nos use para mudar a realidade de muitos.


Fortaleza 01/06/08 wanderley tome de Freitas – servo do Deus Vivo!


wanderleytome@ibest.com.br

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