terça-feira, 15 de julho de 2008

Quem são os culpados?

Diante dos fatos absurdos e trágicos que temos visto repetidas vezes repetidas por toda a mídia, uma coisa fica evidente: todos querem achar os culpados pela tragédia ocorrida. É mesmo muito trágico o fim de uma criança arremessada pela janela de seu próprio apartamento. Mesmo que não seja a única tragédia acontecida nessa mesma época, essa tomou proporções enormes pela divulgação intensa feita por todos os veículos de comunicação do país. Há um interesse de uma nação pela descoberta da verdade dos fatos; quem teria cometido tão horrendo crime? Muitos já tiraram suas conclusões e acusam sem medo de errar quem são os verdadeiros culpados. De certa forma é legítimo o interesse em saber a verdade sobre tamanha crueldade cometida a um ser tão indefeso diante de seus agressores. No entanto, o que não vemos absolutamente ninguém fazendo; pelo menos nos mesmos meios de comunicação que acompanham com afinco as investigações, e que aproveitam a tragédia para manter a muitos escravos de uma curiosidade mórbida em frente a seus programas; ninguém desses tem coragem de perguntar, investigar, tentar analisar a questão de uma forma mais profunda sobre; quais seriam os reais motivos do crime? Em que contexto ele está inserido? Talvez exatamente por que isso levaria a sociedade a analisar suas próprias escolhas e comportamentos. Um crime que acontece dentro de um lar, com uma história de traição e separação. Crianças que precisam desde muito cedo conviver com a história de traição e separação de seus pais; confusões e conflitos, ciúmes como consequência de um “amor da vida” deixado pra trás e trocado por outro... será mesmo amor? E agora, o fruto de relacionamentos que se fizeram e desfizeram com a simplicidade e naturalidade que o mundo ensina e defende, acumula consequências para a vida inteira. Filhos, dádivas de Deus, fruto da relação mais íntima entre um casal; pequenos, indefesos, dependentes, carentes... expostos a problemas de gente adulta e egoísta que só conseguem pensar em seus próprios prazeres. Enquanto a sociedade procura os culpados esquece de analisar o contexto geral em que muitos estão inseridos. Uma sociedade exposta a princípios e valores deturpados, esquecidos, mudados. A família, para muitos, já não é uma instituição segura e permanente, uma escolha para a vida toda. É uma opção temporária. Duas pessoas se juntam, compartilham de interesses comuns e desfrutam o prazer do sexo e em atitudes egoístas preocupam-se apenas com o prazer pessoal. Irresponsavelmente trazem filhos ao mundo, muito também para o próprio prazer, o de ter uma criança como propriedade. Mas não existe mesmo a preocupação com ela, pois ao menor sinal de problema, ou daquilo que possa parecer melhor para si, pai e mãe, não se preocupam com ela e a expõem às consequências de suas escolhas egoístas que deixam rastros de infidelidade, traição, abandono, desamor... e um lar desfeito, uma família aos pedaços. Muitas vezes se ajuntam novamente, formam novas parcerias, mas mantêm os mesmos defeitos de antes, as mesmas atitudes egoístas, a mesma falta de princípios, os mesmos valores hedonistas... São frutos de uma geração, formadores de outra, reflexo de uma sociedade perdida em sua própria falta de limites, de princípios e valores reais... incapaz de preocupar-se com o outro, mantém uma responsabilidade que não chega ao amanhã, apenas ao hoje, ao aqui e agora, que só consegue atingir a eles mesmos. Enquanto a televisão traz para dentro dos lares a banalidade da traição, do desmoronamento de famílias com a busca de seus líderes pela chamada felicidade ao lado de novos parceiros; pais que se permitem e permitem seus filhos ao sexo livre, descomprometido, a não ser com o prazer único e pessoal; exemplos de lares que se fazem e desfazem na velocidade da instabilidade dos sentimentos humanos... são exemplos para uma sociedade inteira, e mais que exemplo, são ensinamentos para muitos que cometem os mesmos erros, e o resultado aparece de forma mais visível em tragédias como essa, mas estão presentes em muitas outras, mascaradas e escondidas pela importância que não lhe são dadas.
Agora, há uma multidão que clama por justiça, que quer ver justiça, quer achar os culpados e puni-los no rigor da lei. Concordo que os culpados sejam encontrados, que as provas sejam irrefutáveis e que autoria de tamanho mal feito seja realmente comprovada. No entanto, faz-se necessário retornar ao ensinamento oportuno de Jesus, (João 8:1-11) com sua frase impactante que ecoa até hoje, mas que muitos não param para ouvi-la. Diante daqueles que acusavam e condenavam, sentenciando à morte uma mulher flagrada em adultério, Jesus simplesmente diz: “ quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra.” Isso não é uma busca para justificar o erro de quem o cometeu, mas é uma forma de mudar o rumo do olhar. Esse olhar que vê o outro, os defeitos e erros dos outros, é desafiado a olhar para dentro de si mesmo e para os seus próprios erros, defeitos e pecados. Jesus não esconde o pecado daquela mulher, pois ele diz a ela: “ vai e não peques mais”, mas ele olha para ela com misericórdia, e mais que isso; ele aproveita esse momento para levar seus acusadores a refletir sobre eles mesmos. Certamente esse é um momento de cada um olhar para dentro de si mesmo e perguntar, como tem contribuído para uma sociedade melhor, onde valores e princípios que formam a base de uma sociedade saudável são mantidos e defendidos a qualquer preço. Onde o lar seja um lugar aconchegante, e a família, a base para uma sociedade saudável, ponto de apoio, lugar de comunhão e proteção para vidas que se desenvolvem até se tornarem responsáveis por outras vidas também. Onde Deus e sua palavra sejam absolutos em detrimento dos achismos e pensamentos humanos. Enquanto nos calamos diante de tudo que deturpa e destrói o que é mais básico e fundamental para uma sociedade saudável, continuaremos a ver tragédias assim. Não basta combater os efeitos, é preciso descobrir e combater as causas. Por isso, mesmo diante da complexidade de um caso tão trágico, em que procura-se por todos os meios encontrar os culpados pelo crime, nos deparamos com a questão muito mais complexa e abrangente, se pensarmos no fato como efeito, inserido em um contexto muito maior que a própria história do crime em si. Quem são os culpados?
29/04/08
wanderley tome de freitas – servo do Deus Vivo! wanderleytome@ig.com.br

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